segunda-feira, 13 de maio de 2013

O Pirata Salazar: O início


Em uma praia qualquer, na costa oeste dos Estados Unidos, banhistas
avistaram um barco, que se aproximava lentamente. Não era exatamente
um barco, e sim uma caravela, como as dos tempos das grandes
navegações. O que mais chamou a atenção dos que testemunhavam a cena,
era sem dúvida uma das velas da embarcação. A tradicional bandeira preta,
com um crânio e um par de ossos cruzados. Mas havia algo um tanto estranho
com esse símbolo: na boca da caveira, havia uma rosa vermelha, perfeita.
Havia também um cogumelo dentro de cada órbita do crânio, que aliás, possuía
também um estranho elmo viking, com a inscrição "scream, horny slut!".
As pessoas, assustadas com a caravela esquisita, decidiram sair da praia e
procuraram a guarda costeira. Esta era uma praia reservada, com pouco movimento,
logo, aguarda costeira não mantinha uma patrulha pelo local.

A caravela então tocou a areia, e ali ficou. De lá, ninguém saiu e ali ninguém era visto.
Eis que voltam alguns poucos banhistas, curiosos, acompanhados de meia dúzia de
três ou quatro policiais armados até os dentes, com poderosos aparelhos de correção
ortodôntica que brilhavam no escuro e um punhado de facas cegas embebedadas em
azeite barato vindo de Barbados. Ao longe, podia se ver uma lancha da guarda costeira
manobrando entre as ondas, seguindo em direção a tal caravela. Um dos policiais na praia,
rapidamente fez valer seu treinamento com cães siberianos na Nigéria ao sacar uma
vuvuzela, que ganhara de seu meio-primo sul-africano de décimo quinto grau e quarenta
e dois avos, quando juntos corriam de pulgas espartanas estrogonoficamente irritadas com
a programação da tv local.

Então, o bravo policial vuvuzelou e vuvuzelou, até que alguma alma aparecesse na proa
da caravela. Enfim, aparecera alguém: era um homem, de estatura mediana, aparentando
não mais que quarenta anos de idade, vestindo uma regata branca (só R$ 12,99), uma
bermuda florida na cor verde mendigo, e pantufas de joaninha e com uma grande barba
laranja. Prontamente ele esbravejou, com um curioso sotaque dos nascidos na península ibérica.

- Puta que pariu, ó homem de farda! Qual é o motivo de soprar essa porra desse canudo
que possui uma das extremidades com formato de um funil, fazendo esse raio
de zumbido igual ao de uma abelha no cio? Será que vocês estadunidenses não sabem
recepcionar direito um puta turista como este que vos fala?

Perplexos, todos os presentes ficaram boquiabertos com a cena que acabaram de ver.
O policial então, se aproximou algumas jardas da caravela, gritando coisas como "amarelo
setenta e oito! Slant Cross!", e jogou sua prezada vuvuzela no chão, e demonstrando todo
o seu emputecimento com a atitude do camarada da caravela, replicou:

- Identifique-se senhor! Caso não saiba, está adentrando um país de forma ilegal. Saiba que
pode sofrer graves consequencias por isto, como ser ficar trancado em um quarto sem janelas
ouvindo repetidamente o som escroto de um grupo de adolescentes brasileiros afeminados
que se vestem com roupas coloridas e se julgam roqueiros!

A expressão de angústia tomou a face do estranho homem da caravela. Ele conhecia o tal
som escroto, oriundo do Brasil. Ele respirou fundo, coçou a bunda, cheirou, e então disse:

- Me chamo Salazar. Capitão Salazar. Mas, não sei por qual motivo, alguns idiotas insistem
em dizer que eu sou um pirata. Ora pois, um pirata que se preze não se deixaria ameaçar por
um estadunidense vuvuzeleiro. - disse o homem com a voz baixa.
Respirou fundo mais uma vez, e então, em Fá maior, continuou:

- Venho até seu país pois ele tem coisas que muito me atraem. Soube que aqui a medicina
é avançada. Preciso encontrar alguém que cure meu irmão retardado. Além do mais, soube
que nessas terras o mercado pornográfico é próspero, e as prostitutas são de qualidade, e
que por aqui posso encontrar uma grande variedade de doces e comidas com corantes e
conservantes que fazem mal ao organismo. Você sabe, tudo isso me atrai. Mais alguma dúvida?

O tal Salazar era mesmo um homem firme. Mesmo usando pantufas de joaninha ele conseguia
impressionar a todos com suas sábias palavras. Nunca alguém havia resumido tão bem o
país daquelas pessoas que, estrambólicas, ouviam o grande Salazar discursar. Os banhistas,
antes assustados, agora batiam palmas, e gritavam o nome de Salazar. Eles lhe deram vuvuzeladas,
e ele havia aberto uma janela na consciência daqueles pobres espectadores. O policial ficou
sem ação. Então Salazar, do alto de sua caravela, berrou:

- Ótimo! Saúdem o grande Salazar! Demorou, mas finalmente me trataram como deveria.
Agora sem mais demoras, tragam me prostitutas, vinhos caros, biscoitos de polvilho e ervas
daninhas! O grande Salazar tem necessidades urgentes!