terça-feira, 9 de abril de 2013

Abelardo, o homem da mídia

 Abelardo... ah, Abelardo. Eis um sujeito incomum. Vivia vendo televisão, e, diferente da maioria, o que mais lhe interessava eram os comerciais. Ficava fascinado com as campanhas publicitárias, principalmente com slogans e frases marcantes. Tão fascinado, que essa porra afetou o cérebro doentio do coitado do Abelardo. Conforme o tempo passou, o sujeito parecia o fruto de uma relação sexual entre uma maritaca, o Google e um catálogo de publicidade. Abelardo havia se tornado uma pessoa bizarra.

 Desenvolveu uma mania peculiar: usava slogans e frases marcantes de comerciais no seu dia a dia, em todo tipo de conversa. E claro, isso o tornou uma figura bem zoada. Perdeu uma mulher por causa dessa babaquice. Tinham acabado de transar, e ela disse:

 - Uau, essa foi foda! O que você achou, Abê?

 - Amo muito tudo isso! - respondeu o pobre infeliz, enquanto usava os dedos para desenhar no ar o símbolo da rede de fast food.

 Perdeu um emprego na farmácia, depois que um cliente estressadinho achou que Abelardo estava sendo debochado com ele.

 - Ei amigo, você sabe se aqui tem aquele remédio pra impotência? - perguntou o cliente.

 - Ah - respondeu Abelardo, fazendo sotaque de gente do campo. - Sei disso não. Melhor o senhor perguntar lá no posto Ipiranga.

 - Como é? Tá de sacanagem comigo, rapaz? Você sabe do que eu tô falando, eu quero uma caixa de Viagra!

 - Prontinho, senhor, prontinho. Tá aqui o seu Viagra. Desperta o tigre em você! - disse o problemático rapaz influenciado pela mídia, antes de ser agredido pelo cliente furioso.

 Certa vez, foi dispensado em uma entrevista de emprego, quando tentava vaga em uma multinacional. Quando perguntado sobre qual era sua expectativa a curto prazo, respondeu com a mesma entonação do locutor:

 - Great times are coming!

 Depois, acabou por perder a vida, pobre coitado, o idiota do Abelardo. Se envolveu em uma briga de bar, dessas em que antes de sair na porrada, o sujeito perde a dignidade, canta Molejo enquanto samba em cima da cadeira, chama garçom de meu amor, dá ideia na tia bêbada que pede música do Roberto Carlos pro cara da música ao vivo, quebra copo na própria cabeça, chama traveco de gostosa, entre outras coisas caóticas. Enquanto voltava do banheiro, já meio na merda devido a toda a cerveja que havia consumido, Abelardo tropeçou em seus próprios pés, e não contente, derrubou o garçom, que por sua vez, derrubou altas tulipas cheias de chopp em cima de um casal que estava sentado em uma mesa. O sujeito, todo molhado, já estressado, e querendo fazer pose de Anderson Silva, se levantou furioso. Deu um soco no garçom, que nada tinha a ver com a cagada de Abelardo. Jogou a cadeira pro lado, e acabou por derrubar o vendedor de amendoin que passava por ali. Chegou até Abelardo, e o puxou pela gola da camisa, até que o bebum ficasse de pé. Gritando, mostrou todo seu emputecimento:

 - Tu é maluco? Me diz, tu é maluco ou idiota? Porra, meu irmão! Tô trabalhando desde cedo, dei um duro do cacete na empresa, aí agora pego a minha mina pra descontrair, tomar uma cerveja aqui na moral, e vem um filho da puta e faz uma merda dessa? Qual é o teu problema?

 Abelardo, ainda eatava muito bêbado, e mais escroto que o comercial do Classe A. Aquele mesmo, do Ah lelek.... Respondeu, meio que sorrindo:

 - Deu duro? Tome um Dreher!

O sujeito prontamente socou a cara de Abelardo. Não uma, duas, ou três vezes. Foram dezessete socos e meio. Abelardo estava caído no chão, pobre pudim de cana. Foi quando covardemente, seu agressor sacou uma arma e a apontou para o injuriado bebum.

 - Eu podia te matar agora, ouviu? Agora! - disse o sujeito, puto da vida, com a arma em punho.

 - Claro que ouvi - respondeu Abelardo. - Minha audição é muito boa! Eu pude ouvir a agulha caindo do outro lado da sala!

 Nesse momento o cara perdeu a paciência e encheu o pobre do Abelardo de pipoco. Era tanto tiro, que nem que Abelardo tivesse a força gostosa do solzinho, ele sobreviveria. Antes de morrer, lembrou do que dizia sua avó, quando ele ainda era um garoto:

 - Sai da frente dessa televisão, menino! Isso ainda vai te fazer mal algum dia!

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