Sábado, puta calor infernal, e ainda eram nove horas da manhã. Mercado tava mais cheio que o estádio do Borussia Dortmund em dia de jogo. Seja lá quem tenha sido o responsável por essa ideia de aniversário de supermercado, era um grande filho da puta que só queria ver o circo pegar fogo. As pessoas saíam até na porrada por uma lata de atum, uma caixa de creme de leite ou um vidro de azeitona. Parecia até campo de concentração. Nesse cenário muitíssimo amistoso e convidativo, a maioria das pessoas ao chegar na porta do supermercado, simplesmente daria de ombros e iria fazer suas compras em outro lugar. Mas um consumidor em especial era perseverante o suficiente pra adentrar aquela colméia humana nessas condições. Wilkinson precisava, de qualquer jeito, adentrar aquele mercado, e comprar aquilo que o fazia se sentir vivo: uma garrafa de Fanta Uva.
Medindo alguns metros de altura, pesando algumas toneladas e balançando fios e placas de memória DDR3, Wilkinson entrou naquele mar de gente, focado apenas em sair de lá com sua garrafa de Fanta Uva. Algumas pessoas o empurravam, entre um saco de feijão e uma caixa de bombom, mas nada disso tiraria o foco de Wilkinson. Quando enfim chegou na parte dos refrigerantes, notou que havia apenas uma garrafa de seu líquido vital, sua famigerada Fanta Uva. Tentou se apressar, se espremendo entre tias gordas e crianças melequentas que furtavam pacotes de Cheetos, ia se deslocando rapidamente em direção ao seu objeto de desejo. Mas Lucicreide chegou mais rápido. Quando Wilkinson esticou seus braços biônicos para agarrar a garrafa, lá já estava a mão de Lucicreide, com dedos gordos como os de um urso polar, e unhas pintadas com um esmalte vagabundo em tom verde mendigo. Wilkinson sentiu um aperto em seu coração, pois não queria de modo algum perder aquela garrafa, a última garrafa. Foi quando Lucicreide olhou para o pobre cyberdino, com olhar de deboche, e gargalhando, disse:
- Perdeu preibói!
Wilkinson, muito puto com a cena que protagonizava, tomou a garrafa da mão da mulher, que era quase tão grande quanto a sua, dada a amplitude física de Lucicreide. Respondeu ao desaforo da mulher com frieza e calma:
- Dona moça, me desculpa, mas eu preciso seriamente dessa porra aqui. Tá vendo esse mercado, cheio pra caralho? Então, eu entrei nessa bagaça unicamente pra comprar essa garrafa de Fanta Uva. A senhora sabe o que isso significa?
Lucicreide respondeu, com desdém, enquanto puxava a garrafa das mãos de Wilkinson:
- Ô seu filho da puta, cê quer que eu chame o Roberval pra te dar uns tiros, quer? Ele é miliciano, tem conchavo com a PM, PE, Marinha, SWAT, SAS e os caralho a quatro. Tu tem disposição pra bater de frente com essa porra toda por causa de uma garrafa de Fanta Uva? Tem???
- Minha senhora - retrucou Wilkinson - eu sou um dinossauro cibernético. A senhora por acaso sabe que porra é essa?
Nesse momento, todo o mercado já entrava em desespero, uma gritaria absurda podia ser ouvida até em Belford Roxo [que é longe pra caralho, diga-se de passagem], e no meio dessa confusão, Wilkinson pegou de volta a garrafa das mãos de Lucicreide.
- Ô seu babaca, tá achando que eu sou ignorante? Se tu é mesmo um dinossauro, e não um babaca fantasiado de lagartixa, como é que tu vai tomar Fanta Uva? Por acaso dinossauro toma refrigerante? Não fode porra, me dá essa garrafa aqui, ou eu chamo o Roberval. Aqui ó, vô pegar o Néquistel pra chamar ele, tu vai ver, ele vai comer teu cú com essa garrafa de Fanta, seu filho da puta. - disse a mulher, já suando como uma porca no deserto, exaltada, sacodindo suas bijuterias.
Wilkinson disparou um raio laser de seus olhos na mão da mulher, que caiu no chão, gritando igual uma piranha velha.
- Mulher, nunca diga a um dependente químico que a última garrafa de Fanta Uva do mercado não vai ser dele. Nunca, ouviu? - esbravejou o dino, enquanto saía do mercado com sua garrafa na mão.
Essas coisas curiosas que acontecem em época de aninversário de supermercado...
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