domingo, 7 de abril de 2013
Ferdinando, o mimizento
- Ferdinando! Acorda! Ferdinando, se você não levantar dessa cama agora, você vai se ver comigo!
Ferdinando abria os olhos, ainda cheios de remela, e se revirava na cama... ouvia a voz histérica de sua mãe. Todo dia, era a mesma coisa, e Ferdinando já tinha quase vinte anos. Sua mãe o acordava todas as manhãs, para que ele não perdesse o horário da faculdade. Trazia seu Toddynho gelado numa bandeja, junto com torradas, queijo branco e geléia de framboesa. Ferdinando era o menininho da mamãe. E talvez por isso, fosse tão mimizento, ranheta, mimado e escroto. Ferdinando parecia tentar ser mais marrento do que o Romário. Acreditava ser um tipo de lorde, ou fodão qualquer, como esses pederastas mimados que viravam reis depois das mortes de seus decadentes pais. Tratava a mãe como escrava, só enquanto não precisasse de algo, como dinheiro pra sustentar seus vícios em Yakult com cogumelo indiano, ou Pó de azulejo com talquinho da Xuxa. Ferdinando era, como diria Gil Brother, um garotinho juvenil criado a leite com pêra.
- Tô saindo da cama já mãe... - gritou Ferdinando, enquanto bocejava feito um hipopótamo hipocondríaco com hipertrofia. - que saco, odeio essa vida de ter que acordar cedo. Esses caras deviam me pagar pra eu ir assistir aula deles a essa hora. Que merda...
Ainda meio lerdo, todo zoado, Ferdinando se levantou da cama, e se jogou no chuveiro de sua suíte. Era tão playba, que a porra do chuveiro respondia por comando de voz. Escovou os dentes ainda no banho, e saiu de lá todo molhado, pingando a porra do quarto todo. Vestiu uma camisa qualquer, dessas da Abercrombie que parecem ser todas iguais, uma calça jeans rasgada no joelho, que ele usava pra posar de rebelde com a galera dele, e seu tênis da Lacoste. Desceu, sem nem comer... mas carregou seu Toddynho gelado. Sua mãe o esperava na sala, como as mães fazem com crianças que estão no Jardim 2, e só faltou lhe entregar uma merendeira do Ben 10. Pediu cinquenta pratas pra mãe, pra comer na faculdade. Sua mãe lhe deu cem, dizendo que ele deveria comer diretinho. Ferdinando saiu de casa, e botou sua cara de menino mau no rosto. Tentava a todo custo parecer o bad boy que nunca foi. Pegou o carro que seu pai lhe deu no aniversário, um desses carros tão fodas que você jura que é um Transformer. Mas como dirigia mal, o tal Ferdinando. E no trânsito, além de fazer um monte de merda, ainda se achava no direito de gritar com os outros, ficava ofendendo todo mundo, trollava vendedor de bala... um perfeito HUE. Fazia isso pra se sentir fodão, como se isso fosse atitude de homem...
Em meio a um puta engarrafamento neurótico, que deixaria até o Comandante Hamilton mais perdido do que filho da puta em dia dos pais, Ferdinando começou a se estressar. Enquanto ouvia sua banda preferida de pseudo-metal, e tomava seu Toddynho, agora já não mais gelado, apetava a buzina como se não houvesse amanhã. Ferdinando era desses que você vê por aí todo dia na rua, que parecem acreditar que quando se aperta a buzina, o carro da frente magicamente levanta voo, abrindo passagem. Foi aí que, pelo retrovisor, viu um motoboy tentar passar por entre o corredor, e porrar a moto na traseira de seu carro. Sim, na bunda do seu Transformer. Ferdinando ficou putinho. Abriu a janela do carro, jogou seu Toddynho no chão. Fez cara de Double Dragon, e foi tirar satisfação com o motoboy, que tava caído, todo fudido.
- Ô seu filho da puta, não tá vendo meu carro? Seu merda, seu bostinha, seu assalariado de merda! Tu vai ter que dar o cú que nem xoxota pra pagar essa porra que tu fez no meu carro!
O motoboy, ainda cheio de dor, todo se fudendo, se levantou. Tirou o capacete, olhou na cara de Ferdinando. Olhou com cara de quem ia descontar todo seu ódio por trabalhar de sol a sol por meia quentinha requentada. Pegou Ferdinando pelos ombros e o jogou em cima do vidro traseiro de seu carro. Naquela hora, Ferdinando perdeu seu semblante de Double Dragon, perdeu a dignidade, e o vidro traseiro do carro. O motoboy apontou o dedo na cara do moleque metido a Chuck Norris, e disse:
- Fica na tua, xará! A vida é bem mais do que esse seu Toddynho gelado! Seu filho da puta, tu acha que eu bati a moto nesse teu carro da Barbie de propósito? Acha que eu ia fazer isso a toa? Seu babaca do caralho, eu ia pagar essa porra, mas agora eu vou é te meter o cacete até minha mão virar o Bob Esponja!
E esse foi mais um dia, na vida de Ferdinando, o menino mimado da mamãe, que achava que era boladão, mas não passava de um babaca.
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HHH - hipopótamo hipocondríaco com hipertrofia!
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